quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Á AGUIA E A GALINHA

 

 

A Fábula da águia e da galinha

Conto uma história que vem de um pequeno país da África Ocidental, Gana, narrada por um educador popular, James Aggrey, quando se davam os embates pela descolonização.

Era uma vez, um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.

Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: “ Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia”.

-“De fato”, disse o homem. “É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. È uma galinha como as outras”.

-“Não”,  retrucou o naturalista. “Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Esta coração a fará um dia voar às alturas”.

-”Não”, insistiu o camponês. “ Ela virou galinha e jamais voará como águia”.

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou  a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: -  “ Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!”.

A águia ficou sentada sobre o  braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.

O Camponês comentou: “ Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha”.

-“Não”, tornou a insistir o naturalista. “Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã”.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe: “ Águia. Já que você é uma águia, abra suas asas e voe!”.

Mas, quando a águia viu lá em baixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.

O camponês sorriu e voltou à carga: “ Eu havia lhe dito, ela virou galinha”.

-“Não”, respondeu firmemente o naturalista. “ Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar”.

No dia seguinte , o naturalista e o camponês levantaram bem cedo . Pegaram a águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e dourava os picos das montanhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: “Águia, já que é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!”.

A águia olhou ao redor. Tremia,  como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus  olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte. Foi quando ela abriu suas potentes asas. Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar,a voar para o alto e voar cada vez mais alto. Voou. E nunca mais retornou. Povos da África( e do Brasil). Nós fomos criados à margem e semelhança de Deus. Mas  houve pessoas que nos fizeram  pensar como galinhas. E nós ainda pensamos que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por  isso, abram as asas e voem. Voem como águias, jamais se contentem com os grãos que lhe jogarem aos pés para ciscar.

Leonardo Boff

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