quarta-feira, 30 de junho de 2021

FESTA JUNINA!

Ontem fui ao arraial de Lajeado, fazia um tempo que não ia ver as quadrilhas dançarem nas festas juninas. O povo do norte e nordeste brasileiro gosta muito dessa festa. Quando eu era pequeno inclusive gostava de dançar no colégio, passávamos vários meses ensaiando só para apresentar para comunidade que participava do arraial na escola. Era muito divertido, além da quadrilha no colégio, também tinha a do bairro.

 

As quadrilhas tem origem na tradição camponesa de comemorar o período da colheita, por isso umas das coisas marcantes das festas juninas são a culinária, a abundancia de comida. Muita comida e bebida. Pamonha, milho assado, pé de moleque, quentão entre outras gostosuras.

 

Mas a parte melhor sem duvida eram as quadrilhas. O caminho da roça, o casamento, os figurinos simples, o chapéu de palha, as camisas quadriculadas, os vestidos de renda. O som da sanfona, do zabumba, do pandeiro e do triangulo. Tudo era muito simples, qualquer um podia participar.

 

As festas juninas era um jeito de lembrar a nossa origem camponesa, resgatar nossos costumes, celebrar nossa cultura, matar a saudade do campo. Da nossa terra de onde fomos obrigados sair para dar lugar à monocultura de soja, cana de açúcar, eucalipto, pasto pra gado ou para construção de usinas hidrelétricas.

 






Ontem fiquei olhando a festa junina aqui no Lajeado, há algum tempo não ia a uma quadrilha. Fiquei triste pelo que vi, as coisas mudaram tanto. A festa junina deixou de ser um espaço de diversão para se tornar um espaço de competição. As músicas aceleradas que nada lembra o forrozinho pé de serra. Agora se tornaram uma espécie de forró enredo.

 

O figurino todo cheio de brilho parecendo fantasias de carnaval, muitos passos foram modificados, alguns desapareceram a exemplo do bêbado e do veado, dizem que agora é quadrilha politicamente correta. Ai de nós, não é para tanto. As quadrilhas pulam alucinadamente, são tudo cronometrado, coreografado, quadrilhas enlatadas, industrializadas.

 

 

Senti saudade do meu tempo de criança, das quadrilhas no colégio, do grupo do império na baixa preta, bairro onde morava. Da diversão que era. Da animação. Quando se dançava quadrilha não para se disputar troféu ou ganhar dinheiro, mas para festejar e relembrar a nossa origem camponesa. As quadrilhas de hoje infelizmente estão mais para carnaval. Que pena, que pena. 


quarta-feira, 23 de junho de 2021

A SOMBRA - EDGAR ALAN POE!

 

  EDGAR ALAN POE - A SOMBRA.

Vós, que me ledes, estais ainda entre os vivos; mas eu, que escrevo, terei desde há muito partido para o mundo das sombras. Na verdade, estranhas coisas virão, inúmeras coisas secretas serão reveladas, e muitos séculos decorrerão antes que estas notas sejam lidas pelos homens. E quando eles as tiverem lido, uns não acreditarão, outros porão as suas dúvidas, e muito poucos de entre eles encontrarão matéria para fecundas meditações nos caracteres que eu gravo com um estilete de ferro nestas tabuinhas.

O ano havia sido um ano de terror, cheio de sensações mais intensas que o terror, sensações para as quais não há nome na Terra. Muitos prodígios, muitos sinais haviam ocorrido, e de todos os lados, em terra e no mar, se tinham amplamente estendido as asas negras da Peste. Aqueles, porém, que eram sábios, conhecedores dos desígnios das estrelas, não ignoravam que os céus prenunciavam desgraça; e, para mim (o grego Oino), como para outros, era evidente que atingíamos o fim desse septingentésimo nonagésimo quarto ano, em que, à entrada do Carneiro, o planeta Júpiter fazia a sua conjunção com o anel vermelho do terrível Saturno. O espírito particular dos céus, se não me engano muito, manifestava o seu poder não só sobre o globo físico da Terra, mas também sobre as almas, os pensamentos e as meditações da humanidade.
Uma noite, estávamos sete nos fundos de um nobre palácio, numa sombria cidade chamada Ptolemais, sentados em volta de algumas garrafas de vinho cor de púrpura de Quios. O compartimento não tinha outra entrada senão uma alta porta de bronze; e a porta havia sido moldada pelo artífice Corinos e, produto de hábil mão de obra, fechava por dentro. De igual modo, protegiam esse compartimento melancólico negras tapeçarias, que nos poupavam a visão da Lua, das estrelas lúgubres e das ruas despovoadas. Mas o sentimento e a lembrança do Flagelo não se tinham expulsado facilmente. Havia à nossa volta, junto de nós, coisas que não posso definir distintamente, coisas materiais e coisas espirituais — um peso na atmosfera, uma sensação de abafamento, uma angústia e, acima de tudo, esse terrível modo de existência que ataca as pessoas nervosas quando os sentidos estão cruelmente vivos e despertos e as faculdades do espírito entorpecidas e apáticas. Esmagava-nos um peso mortal. Estendia-se-nos pelos membros, pelo mobiliário da sala, pelos copos por onde bebíamos; e todas as coisas pareciam oprimidas e prostradas naquele abatimento — todas, exceto as chamas das sete lâmpadas de ferro que iluminavam a nossa orgia. Alongando-se em delgados fios de luz, elas assim se quedavam, ardendo pálidas e imóveis; e na mesa redonda de ébano em redor da qual nos sentávamos, e cujo brilho transformava em espelho, cada um dos convivas contemplava a palidez do próprio rosto e o brilho inquieto dos olhos tristes dos seus camaradas.
Não obstante, compeliamo-nos a rir, e estávamos alegres à nossa maneira — uma maneira histérica; e cantávamos as canções de Anacreonte, que não passam de loucura; e bebíamos à larga, muito embora a púrpura do vinho nos lembrasse a púrpura do sangue. É que no compartimento havia uma oitava personagem — o jovem Zoilo. Morto, estendido a todo o comprimento e amortalhado, era o gênio e o demônio do cenário. Ai! esse não tomava parte no nosso divertimento: apenas a sua fisionomia, convulsionada pelo mal, e os seus olhos, em que a Morte só semiextinguira o fogo da peste, pareciam tomar pela nossa alegria tanto interesse quanto os mortos são capazes de tomar pela alegria daqueles que têm de morrer. Mas embora eu, Oino, sentisse os olhos do defunto fixos em mim, a verdade é que me esforçava por não me aperceber do amargor da sua expressão, e, olhando obstinadamente para as profundezas do espelho de ébano, eu cantava em voz alta e sonora as canções do poeta de Teos. Gradualmente, porém, o meu canto cessou, e os ecos, rolando ao longe por entre as negras tapeçarias do aposento, foram enfraquecendo, indistintos, e desvaneceram-se.
Mas eis que do fundo dessas tapeçarias negras onde morria o eco da canção se ergueu uma sombra, escura, indefinida — uma sombra semelhante àquela que a Lua, quando está baixa no céu, pode desenhar com as formas de um corpo humano; mas não era a sombra nem de um homem, nem de um deus, nem de nenhum ser conhecido. E, tremendo por instantes no meio dos reposteiros, ela ficou, enfim, visível e firme, sobre a porta de bronze. Mas a sombra era vaga, sem forma, indefinida; não era a sombra nem de um homem, nem de um deus — nem de um deus da Grécia, nem de um deus da Caldeia, nem de nenhum deus egípcio. E a sombra jazia sobre a grande porta de bronze e sob a cornija em arco, sem se mexer, sem pronunciar uma palavra, fixando-se cada vez mais e acabando por ficar imóvel. E a porta em que a sombra assentava, se bem me recordo, tocava os pés do jovem Zoilo.
Nós, porém, os sete companheiros, tendo visto a sombra sair dos reposteiros, não ousávamos contemplá-la de frente; baixávamos os olhos e olhávamos sempre para as profundezas do espelho de ébano. Por fim, eu, Oino, aventurei-me a pronunciar algumas palavras em voz baixa, e perguntei à sombra a sua morada e o seu nome. E a sombra respondeu:
— Eu sou a Sombra, e a minha morada é ao lado das Catacumbas de Ptolemais, e muito perto dessas planuras: infernais que encerram o canal impuro de Caronte.

E então, todos nós, os sete, erguemo-nos horrorizados dos nossos assentos, e ali ficamos — trêmulos, arrepiados, cheios de assombro. O timbre de voz da Sombra não era o timbre da voz de um só indivíduo, mas de uma multidão de seres; e essa voz, variando as suas inflexões de sílaba para sílaba, enchia-nos confusamente os ouvidos, a imitar os timbres conhecidos e familiares de milhares de amigos desaparecidos!

 

FESTA JUNINA!

Ontem fui ao arraial de Lajeado, fazia um tempo que não ia ver as quadrilhas dançarem nas festas juninas. O povo do norte e nordeste brasile...